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Título: A PRODUÇÃO DE DESASTRES DA MINERAÇÃO EM MINAS GERAIS: A BARRAGEM DE FUNDÃO E A CONTAMINAÇÃO DE PAISAGENS
Autor(es): Fleury, Lorena C.
COUTINHO, ELENICE APARECIDA
Coates, Robert
Almeida, Jalcione
Milanez, Bruno
Verschoor, Gerard
Palavras-chave: Desastres;Rompimento de barragem;Paisagem;Contaminação;Mineração;Minas Gerais
Data do documento: 2022
Resumo: Nesta pesquisa debruço-me sobre um dos maiores desastres ambientais da mineração no Brasil: o rompimento da barragem de Fundão, de propriedade das empresas Joint Venture Samarco, Vale S.A. e da anglo-australiana BHP Billiton. A barragem, localizada no distrito Bento Rodrigues no município de Mariana, Minas Gerais, se rompeu no dia 05 de novembro de 2015. Nesta investigação a paisagem afetada é demonstrada pelas transformações que ocorrem nos rios, infraestrutura, habitação, práticas religiosas e espirituais, militância. E ainda como as pessoas afetadas se deslocam, sentem e falam sobre suas vidas, preocupações sobre como a existência e convivência na paisagem é drasticamente transformada. Isto é, mais do que apenas danos colaterais materiais que não podem ser facilmente quantificados. Deste modo, a tentativa de conhecer o desastre apenas através do evento que representa a ruptura da barragem é limitada. Esta é uma lacuna que a presente pesquisa espera ajudar a preencher. A partir dessa conjuntura, este estudo pretendeu verificar: i) Como o rompimento da barragem de Fundão, e seu modelo mais amplo de extração mineral, continua a transformar a paisagem em outros municípios de Minas Gerais? ii) Tais transformações apontariam (novas) dimensões do desastre para além do rompimento da barragem? Com o objetivo de analisar as transformações da paisagem reproduzidas pelo modelo mineral em torno do rompimento da barragem de Fundão, argumento que os desastres causados pela mineração extrapolam as falhas que levam ao rompimento de barragens. O trabalho de campo qualitativo e multisituado, realizado entre 2017 e 2021, em diferentes municípios do estado, destaca associações de diversos atores humanos e não humanos – afetados da região das bacias do rio Doce e do rio Paraopeba, afetados em Barão de Cocais/MG, na Zona da Mata Mineira, militantes, pesquisadores, técnicos, grupos católicos, relatórios, barragem, minério de ferro, rios, “lama”, placas, sirenes, etc.. As transformações da paisagem foram analisadas com base na categoria paisagem, aportes da teoria do ator-rede (TAR) e técnicas de observação, entrevistas etnográficas, diário de pesquisa, registros fotográficos e acervo de documentos. Essa pesquisa foi fundamentada nas contribuições de Anna Tsing (2017, 2019), Isabelle Stengers (2015), Bruno Latour (1994, 2012), Michel Serres (2011), Tim Ingold (2020; 2021). Fundamentos teóricos são ainda encontrados nas contribuições de um conjunto de autores (as) brasileiros (as), como Milanez et al. (2016, 2019, 2021), Losekann (2017), Creado et al. (2016), Coelho (2016, 2017), Trocate et al. (2020), Zhouri (2019), entre outros (as) dedicados (as) ao estudo da problemática mineral. Os resultados apontam que a estrutura de Fundão, possibilitada pela escalabilidade da cadeia do minério de ferro, possui um desenho capaz de transformar continuamente a diversidade da paisagem estabelecendo o que chamei nesse estudo de plantation mineral. As descrições de histórias de afetações em outras localidades permitiram reunir e demonstrar os movimentos de perturbação e disrupção da paisagem. A permeabilidade entre ambos os movimentos produz uma contaminação das conexões da vida. Por fim, o acompanhamento dos atores ao redor de Fundão orientou a pesquisa para locais e temporalidades que vão claramente além da operação e rompimento desta barragem. Esse entendimento estende as noções de desastre até agora aplicadas ao colapso do Fundão na literatura crítica, permitindo-me descrever este e outros desastres de mineração de novas maneiras, as quais podem ter implicações para políticas, planejamento e resposta a desastres.
In this research I focus on one of the biggest environmental disasters of mining in Brazil: the rupture of the Fundão dam, owned by the companies Joint Venture Samarco, Vale S.A. and the Anglo-Australian BHP Billiton. The dam, located in the Bento Rodrigues district in the municipality of Mariana, Minas Gerais, failed on November 5, 2015. In this investigation, the affected landscape is demonstrated by the transformations that occur in the rivers, infrastructure, housing, militancy and religious and spiritual practices. The ways affected people move, feel and talk about their lives, including concerns about how existence and coexistence in this landscape have also been drastically transformed. Impacts go beyond just material collateral damage and cannot be easily quantified. In this way, the attempt to know the disaster only through the event that represents the dam rupture is limited. This is a gap that the present research helps to fill. From this conjuncture, this study aimed to verify: i) How does the Fundão dam failure, and its wider mineral-extractive model, continues to transform the landscape in other municipalities in Minas Gerais? ii) Do such transformations point to (new) dimensions of the disaster beyond the dam failure? With the objective of analyzing the landscape transformations reproduced by the mineral model around the Fundão dam failure, I argue that the disasters caused by mining exceeds the faults that lead to the dam failure. Qualitative and multi-situated fieldwork, carried out between 2017 and 2021, in several municipalities in the state, highlights associations of various human and non-human actors including: affected people from the region of the basins of the Doce River and the Paraopeba River, affected in Barão de Cocais/MG, and in Zona da Mata Mineira, as well as activists, researchers, technicians, Catholic groups, reports, dam, iron ore, rivers, “mud”, signs, sirens, etc. Landscape transformations were analyzed through the category of landscape (TSING, 2017, 2019) with contributions from Actor-Network Theory (ANT) via participant observation, ethnographic interviews, production of fieldwork journals, photographic records and document collection. This research was developed with theoretical contributions from Anna Tsing (2017, 2019), Isabelle Stengers (2015), Bruno Latour (1994, 2012), Michel Serres (2011), Tim Ingold (2020; 2021). Theoretical foundations are also found in the contributions of a number of Brazilian authors, such as Milanez et al. (2016, 2019, 2021), Losekann (2017), Creado et al. (2016), Coelho (2016, 2017), Trocate et al. (2020), Zhouri (2019), and others dedicated to the study of mineral issues. The results reveal that the Fundão structure, made possible by the scalability of the iron ore chain, has a design capable of continuously transforming the diversity of the landscape, establishing what I called in this study a mineral plantation. The descriptions of histories of affectations in other localities allowed to gather and demonstrate the movements of disturbance and disruption of the landscape. The permeability between both movements produces a contamination of the connections of life. Finally, following the actors around Fundão guided the research to locations and temporalities that clearly go beyond the operation and rupture of this dam. This understanding extends notions of a disaster thus far applied to the Fundão collapse in critical literature, allowing us to describe this and other mining disasters in new ways that may have implications for policy, planning, and disaster response.
Tipo: Tese
Páginas: 233
Local do depósito: https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/246493/001147155.pdf?sequence=1
URI: https://repositorio.icmbio.gov.br/handle/cecav/1779
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